A perigosa transformação de uma ciência num manifesto
panfletário do neoliberalismo
Hoje, nas páginas do DN, Viriato Soromenho Marques
comenta um estudo do Bundesbank que tentava convencer os alemães que os contribuintes
espanhóis, italianos e cipriotas são mais ricos que eles. Esta conclusão, que
viola o mais elementar senso comum, só foi possível graças a uma abordagem
criativa de dados estatísticos e a uma ausência quase total de princípios
epistemológicos.
Ontem, no seu blogue, Krugman desmontava mais um
estudo utilizado para defender a relação entre cortes na despesa pública e crescimento económico, elaborado por Alesina e Ardagna cujas
conclusões foram agora rejeitadas pelo próprio FMI.
A semana tinha começado com a descoberta
de erros grosseiros de Excel no muito citado estudo de Reinhart e Rogoff. A
estes somaram-se outros erros ainda mais graves, como a exclusão de países que
iriam contrariar as conclusões e o recurso a métodos contabilísticos pouco
eficientes ou mesmo duvidosos.
O mais preocupante não é as conclusões destes
estudos estarem erradas, mas a completa submissão das Ciências Económicas à
agenda de uma força política que rejeita o método científico e os seus
pressupostos epistemológicos.
Foi precisamente devido ao risco de a economia se
estar a transformar numa disciplina da retórica que a Academia Sueca apertou as
as suas regras, impedindo que os Prémios Nobel continuassem a ser sistematicamente
entregues a economistas neoliberais.