O Mito da Insustentabilidade do Estado Social
Um pouco por todo o lado, após o chumbo do orçamento pelo
Tribunal Constitucional, a impossibilidade de manutenção do estado social foi,
uma vez mais, invocada por diversos comentadores e especialistas.
Porém, esta linha de argumentação parte do pressuposto que,
após a rigorosa análise de políticos, economistas e patrões, se chegou à
conclusão que a situação económica permitia o estabelecimento de um estado
social. Este argumento é falso.
O estado social não foi estabelecido por ser meramente possível, mas
sim pela pressão de trabalhadores, sindicatos e organizações políticas de esquerda.
Não é o produto de uma análise de sustentabilidade, mas sim a parte fundamental
de um acordo de paz. Os capitalistas e os políticos liberais sempre o
consideram uma fonte de prejuízos e despesas. Numa lógica meramente economicista e, sobretudo, liberal, a própria sustentabilidade do estado social é irrelevante, na medida em que este é considerado como indesejável, nocivo e despesista.
Por outro lado, a utilização da sustentabilidade como
argumento para a extinção do estado social é altamente duvidosa e subverte factos
importantes. A razão para a quebra na produção industrial europeia e para
a falta de liquidez das finanças públicas deve-se inteiramente a interesses da
economia privada – a deslocalização de indústrias para regiões em que quase não
existem direitos laborais e a desregulação do sistema financeiro – e era uma
das consequências evidentes do Consenso de Washington.
Na verdade, os mesmos que se sempre se opuseram ao estado
social querem agora fazê-lo depender de uma pretensa sustentabilidade, que
apesar de ser uma preocupação nunca foi o motivo para a sua existência, ao
mesmo tempo que criam as condições para que ele não seja sustentável.
Enquanto Portugal for um dos países da Europa com maior
disparidade na distribuição de riqueza, a insustentabilidade do Estado Social é
um não argumento!